Resumo: |
Os
mecanismos determinantes das propriedades físico-químicas
da bebida do café ainda não foram totalmente
compreendidos, devido principalmente à complexidade de sua
composição. Além disso, é freqüente a
presença de adulterantes no pó de café comercial,
o que fez com que a ABIC (Associação Brasileira das
Indústrias de Torrefação e Moagem de Café)
instituísse um selo de qualidade para garantir a pureza do
produto. O principal método atualmente utilizado para a
detecção de impurezas no café é a
microscopia óptica. Esta técnica só pode ser
empregada em amostras na forma de pó e tem um limite de
resolução acima de 2%. Assim, é de grande
importância o desenvolvimento de novos métodos mais
precisos e de execução mais rápida para a
determinação da presença de tais adulterantes. A
espectroscopia de lente térmica (ELT) faz parte de uma
família de técnicas fototérmicas que vem cada vez
mais mostrando sua potencialidade no estudo das propriedades
ópticas e térmicas de materiais transparentes. Esta
técnica apresenta alta versatilidade para o estudo de
líquidos, é uma metodologia não destrutiva e os
experimentos podem ser realizados com rapidez. Neste trabalho, a ELT
foi utilizada pela primeira vez como método para determinar as
propriedades ópticas e térmicas da bebida do café.
Além disso, combinada com a medida do pH e da espectrofotometria
esta técnica foi empregada para a detecção de
adulterantes na bebida do café. Foram realizadas várias
séries de experimentos com a bebida do café puro e com a
bebida do café adulterado com 4% em peso de fubá. As
concentrações de café puro e café com
fubá variaram de 0,04% a 20% em peso. A ELT foi empregada para
determinar o valor do parâmetro dn/dT(coeficiente que descreve a
variação do índice de refração com a
temperatura); a Phmetria foi utilizada para determinar o pH das
amostras; enquanto que a espectrofotometria foi empregada para a
determinação do espectro de absorbância na
região do visível e do coeficiente de
absorção óptica das amostras. Os experimentos
foram feitos em temperatura ambiente, imediatamente após a
obtenção da bebida do café. Os resultados para o
comportamento do parâmetro dn/dT obtido a partir da ELT em
função da concentração de café puro
quanto para a de café com fubá foram descritos
através de uma curva com a forma de um pulso invertido, com um
mínimo em torno de 0,6 % em peso. Este resultado indica que para
as amostras com baixas concentrações, entre 0,04%
até 0,6%, ocorre diminuição do valor do
coeficiente de temperatura da polarizabilidade eletrônica (ϕ),
como consequência da possível quebra dos agregados
moleculares da água durante o processo de
percolação da mesma através do pó do
café. Para concentrações entre 0,6% até 20%
os valores de dn/dT apresentaram uma taxa de variação
semelhante a uma exponencial crescente, em que a
saturação ocorreu para concentrações em
torno de 6%, indicando que o valor de ϕ aumentou neste intervalo de
concentração. Nas medidas de pH, observou-se
também que a forma da curva de pH em função da
concentração de café apresentou um comportamento
semelhante a um pulso invertido, com o menor valor deste
parâmetro em torno de 0,6 % em peso de café. Isto mostra
que para a região de baixa concentração de
café, a amostra apresenta uma maior quantidade de cargas livres,
provavelmente devido à quebra dos agregados moleculares de
água ocorrida durante a preparação da bebida,
conforme observado para os resultados de dn/dT. Assim, tanto os
resultados obtidos para dn/dT como os de pH são concordantes no
que se refere ao aumento de cargas livres na bebida para as
concentrações no intervalo entre 0,04% até 0,6% e
ao contrário, uma diminuição destas cargas livres
à medida que a concentração de café foi
sendo aumentada a partir de 0,6%. A partir dos resultados de dn/dT em
função da concentração de café,
observamos que a taxa de variação do valor deste
parâmetro em função da concentração
apresenta diferenciação para as amostras de café
puro e café com fubá. Os resultados obtidos a partir das
medidas de pH também mostraram que a taxa de
variação do valor de pH em função da
concentração de café foi diferente para as
amostras puras, quando comparadas às com fubá. Portanto,
os resultados obtidos para o pH são concordantes com os valores
de dn/dT determinados a partir da ELT tanto no que se refere a
diferenciação entre as amostras da bebida de café
puro das com fubá, quanto ao comportamento do número de
cargas livres da solução. Esta é a primeira vez
que a ELT é empregada para o estudo da bebida do café. Os
resultados mostraram que a ELT é uma técnica que pode ser
empregada para estudos quantitativos das propriedades ópticas e
térmicas do café, sendo portanto um novo método de
investigação para este material, que é um dos
principais produtos de nossa economia. Quanto à
identificação de adulterantes e afora este objetivo
específico, os resultados indicam ainda que a referida
técnica pode ser igualmente aplicada a outrostipos de alimentos
processados, tais como, farináceos, óleos
comestíveis, dentre outros. |